Tico Santa Cruz - Pólvora, Chumbo e Sexo pdf
Capítulo 0.5
Nosso primeiro assalto foi a uma transportadora de bebidas.
Ela quem estava dirigindo. Eu cochilava quando ouvi um barulho de
freada e senti o cheiro do pneu queimado invadir minhas narinas.
Tomei um susto. Quando olhei, já estava lá com sua pistola
apontada na direção do cérebro do motorista. Não gritou e nem
gesticulou em tons nervosos, parecia muito tranquila diante de tal
situação insólita. Talvez já estivesse planejado, eu é quem não sabia
de nada e senti a aceleração forte dos meus batimentos cardíacos.
Era um fim de tarde, o sol já havia se enfiado para mais da metade
dos vales, e o céu lilás, rôxo, misturava‐se ao azul‐ escuro, já quase
negro.
O motorista se mostrava um pouco nervoso, o que me deixou
atento. Peguei um bastão de ferro que encontrei no banco de trás e
fiquei quieto, à espera de algo que ninguém imaginasse.
Conhecemo‐nos, há duas semanas, num posto de saúde.
Lorena era linda. Cabelos castanhos claros, olhos de pomba.
Trabalhava como enfermeira. Fui levar um dos meus sobrinhos para
vacinar e ficamos conversando enquanto ela preparava a leve
“picadinha” no bracinho dele. Trocamos telefones e fui parar na sua
casa uns cinco dias depois. Ela foi parar em cima de mim e
metemos muito, metemos de verdade, metemos sem parar e
metemos, metemos e metemos. Uma imagem de Jesus Cristo me
incomodava. Não a imagem necessariamente, mas onde ela estava.
Exatamente no centro do quarto de Lorena. Não era uma imagem
qualquer de Jesus Cristo, era o Santo Filho de Deus, talhado em
madeira, com cerca de 1,80 de altura em cores vibrantes e pregos
reais enfiados na palma de suas mãos, uma sanguinolência que me
tirava a concentração. Quando perguntei a Lore o porquê daquela
obra de arte no meio do seu quarto, ela foi categórica:
– O sofrimento me excita, me dá prazer!
Percebi quando o ajudante do motorista deu a volta no carro.
Ele quis atingir Lore com uma pedra que pegou pelo acostamento.
Ela estava numa frequência de conexão tão estreita com aquilo tudo
que, antes de desviar da pedra atirada pelo assistente, deu um tiro
certeiro entre os olhos do homem ao volante. Eu pulei do carro com
a barra na mão e espatifei umas cinquenta vezes a cabeça do pobre
rapaz. Nunca havia imaginado que seria capaz de uma atitude
dessas; que isso pudesse acontecer em minha existência pacata e
tediosa nesse planeta, mas foi no sangue dele que lavei minhas
botas. E acho que foi ali que tomei gosto por Lore. Colocamos os
corpos desfigurados dentro da carroceria do pequeno transporte.
Lore teve o cuidado de limpar nossas digitais. Em seguida, saímos
de lá em alta velocidade pela estrada com algumas garrafas de
tequila, outras muitas de uísque, vodka e só.