Em Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida, Xinran aborda com delicadeza um dos aspectos mais cruéis e polêmicos da sociedade chinesa contemporânea, e dá voz às mães que não puderam vivenciar a plena maternidade por terem dado à luz bebês do sexo feminino.
Neste livro, Xinran, jornalista e autora do best-seller internacional As boas mulheres da China, retorna às histórias verídicas de mulheres chinesas que a tornaram mundialmente conhecida. Desta vez ela aborda o sofrimento humano resultante da interação de uma milenar cultura machista com circunstâncias históricas, econômicas e sociais específicas. Em dez capítulos, são apresentadas dez histórias marcadas pela interrupção da relação mãe-filha, de meninas que nunca conheceram suas mães biológicas e mulheres que deram a filha em adoção a casais de camponeses que vivem sem endereço fixo, viajando pelos quatro cantos da China para burlar a fiscalização da lei do filho único - eventualmente abandonando uma menina numa estação de trem.
Ao longo dos anos Xinran foi tomando conhecimento das circunstâncias em que vivem tais mulheres. Após relutar, decidiu abordar esse delicado tema e dedicar um livro às centenas de milhares de mães chinesas que se viram levadas a rejeitar - e até mesmo a matar - suas bebês: pela primeira vez, elas teriam suas histórias ouvidas. Material humano, dados históricos e informações estatísticas compõem um envolvente panorama de tristes experiências de maternidade e confirmam a autora como uma das principais vozes a traduzir a realidade chinesa para o público-leitor ocidental.
Xinran -Mensagem De Uma Mãe Chinesa Desconhecida PDF
Nota de contextualização
No nal de 2007, o número de crianças órfãs chinesas adotadas no mundo todo
chegou a 120 mil. Essas crianças foram levadas para 27 países — e quase todas eram
meninas. A maior parte dos chineses acha inacreditáveis os números da adoção, assim
como acham difícil crer que crianças chinesas tenham encontrado mães e lares em tantos
países. Por que a China tem tantas meninas órfãs? A maior parte dos chineses diria que é
porque há algo inerentemente errado com a cultura tradicional; em outras palavras, antigos
costumes são enraizados na ignorância. Os ocidentais, por outro lado, acreditam que a
culpa é da política do lho único. Comecei a reunir informações quando, em 1989, passei a
apresentar Palavras na brisa noturna, um programa para mulheres na Rádio Nanjing; à
medida que esse trabalho me levou por toda a China, para fazer entrevistas, encontrei
mulheres que haviam sido forçadas a abandonar seus bebês. Pessoalmente, acredito que são
três as principais razões para isso. Em primeiro lugar, bebês do sexo feminino têm sido
abandonados em culturas rurais do Oriente desde os tempos antigos; em segundo lugar,
uma combinação de ignorância sexual, que continua muito disseminada, e o boom
econômico; e, por último, há a política do lho único.
Em países em desenvolvimento, com suas comunidades que tiram o sustento de
métodos primitivos de agricultura, ou da caça, ou de coletar o que a natureza oferece, ou
então da pesca, a mão de obra é necessária para a sobrevivência, e assim a preferência por
meninos é inevitável. Machos têm uma vantagem física indiscutível em relação às fêmeas
quando se trata de trabalho pesado, de carregar produtos, caçar, defesa etc.
Outro fator que não pode ser ignorado no caso da China é um sistema antigo de
distribuição de terras que persiste até hoje. Tal sistema teve início com a dinastia Xia
(aproximadamente de 2070 a.C. a 1600 a.C.) e mostrou-se na sua forma mais completa no
Sistema de Distribuição de Terras em Poços da dinastia Zhou (1045 a.C. a 256 a.C.), e no
Sistema Igualitário de Terras organizado por volta do ano 485 pelos governantes do reino de
Wei do Norte.* O que esses sistemas tinham em comum com o sistema atual é o princípio
de destinar campos de cultivo com base no número de membros de uma família morando
sob o mesmo teto. A discriminação em favor dos homens se tornou, portanto, uma lei
imutável.** Em 485, foi feita uma listagem de clãs, e então distribuiu-se terra com base no
número de membros permanentes de tal clã. A terra era dividida em dois tipos: terras
aráveis, para cultivo de grãos, e terra de amoreiras, para a alimentação de bichos-da-seda.
Todo homem com quinze anos ou mais recebia quarenta mu*** de terra arável, ao passo que
as mulheres recebiam vinte mu, e escravos e serventes também podiam receber terra. Essa
terra revertia ao governo quando da morte de quem a recebera.
Quanto à terra de amoreira, os homens recebiam vinte mu, que se tornavam sua
propriedade — eles podiam comprar e vender, e ela não precisava ser devolvida. Durante a
dinastia Tang, 618-907, foi claramente estipulado que mulheres não receberiam,
usualmente, nenhuma porção de terra. E dessa forma dinastias se sucederam ao longo da
história chinesa, mas a maneira como a terra é distribuída nunca mudou, e a desigualdade
básica entre homens e mulheres se tornou uma tradição profundamente arraigada. Nos
vilarejos, meninos não apenas davam continuidade à linhagem familiar e herdavam o nome
do clã, eles eram também fonte da propriedade familiar e os criadores da riqueza da família.
O artigo 22 da Lei de Planejamento Populacional e Familiar da República Popular da
China, promulgada em 29 de dezembro de 2001, diz: “Ficam proibidos a discriminação e
maus-tratos de mulheres que derem à luz bebês do sexo feminino e de mulheres que
sofrerem de infertilidade. Ficam proibidos a discriminação, maus-tratos e o abandono de
bebês do sexo feminino”. Entretanto, uma “boa mulher” deve dar à luz um menino — toda
aldeã casada sabe disso. É não só o seu dever sagrado como também a mais fervorosa
esperança de seus sogros. Então, em alguns vilarejos mais pobres, se a primeira criança é
uma menina, o desafortunado bebê é abandonado ou asxiado logo após o nascimento. Nos
lugares onde o controle de natalidade não é uma prática devidamente compreendida, o
abandono de crianças é apenas mais uma lei da natureza, vigente desde tempos imemoriais.
Se o bebê que a família não tinha como criar era um menino, ele podia ser adotado por
outra família ou então vendido. Para uma menina, a morte era praticamente inevitável.
A política chinesa de um lho por família foi arquitetada no Segundo Simpósio
Nacional sobre Demograa, ocorrido na cidade de Chengdu, na província de Sichuan, de 11
a 14 de dezembro de 1979. A então vice-primeira-ministra, Chen Muhua (que por acaso
também foi a primeira ministra mulher na história da China), convenceu os delegados, no
debate de encerramento, que limitar os casais a terem um lho poderia desacelerar a rápida
taxa de crescimento populacional da China. Esse foi o início da “revolução populacional”
que até hoje é tema de debates acirrados. O professor Ma Yanchu,1 renomado especialista
em estudos demográcos, advertiu, no início da década de 1950, que a população do país
estava crescendo rápido demais; em função de uma sugestão sua, o governo realizou o
primeiro censo populacional da China, nos primeiros meses de 1953. Os resultados foram
publicados em 1o de novembro daquele ano: à meia-noite de 1o de junho de 1953, a
população chinesa era de 600 milhões. Em apenas quatro anos decorridos após o
estabelecimento da República Popular da China, em 1949, a população havia crescido em
100 milhões. Em seu estudo comparativo, Nova teoria populacional (1957), o professor Ma
escreveu que nos anos entre 1953 e 1957 a população de fato pode ter ultrapassado os 20%
de crescimento anual detectado no censo de 1953. Segundo ele, o lento crescimento da
tecnologia de manufatura junto com um salto na população, acrescido dos conitos sociais
daí resultantes, signicava que, à medida que a economia global e a civilização se
desenvolvessem, a China caria para trás. As ideias de Ma eram diametralmente opostas às
de Mao, segundo as quais a população e a economia deveriam crescer em paralelo. Como
resultado, Ma foi perseguido durante a Revolução Cultural.
Mas a história provou que Ma estava certo: a população continuou a crescer — de 700
milhões em 1966 a 1,2 bilhão em 1979 —, enquanto os níveis educacionais e econômicos
cavam muito atrás dos níveis do Primeiro Mundo. Até hoje, a maior parte dos habitantes
urbanos com mais de 45 anos se lembra dos valiosos cupons de racionamento para óleo,
carne, grãos e tecido. Certo ano, lembro de ter cado na la desde as cinco da manhã até o
meio-dia, na neve e sob temperaturas enregelantes, para comprar um quarto de quilo de
carne de porco para a minha professora. Essa era a ração para o jantar de Ano-Novo chinês
de toda a família! No campo, a população continuava aumentando. As cada vez mais
estreitas estradas entre os campos eram uma prova muda da luta para extrair comida de
todo pedaço de terra, por menor que fosse. A bem dizer, a economia estava estagnando, e a
imposição de uma política de controle populacional ofereceu uma breve trégua a um povo
que padecera de um século de guerras e levantes políticos, e que lutava contra a pobreza
diariamente.
Milhões de famílias, porém, continuavam a acreditar que era seu dever sagrado
produzir um herdeiro homem para levar adiante a linhagem familiar; na verdade, era um
pecado não fazê-lo. À medida que a “era de planejamento familiar” de fato começou, nos
anos 1980, essas pessoas pagaram um preço muito alto. Famílias inteiras foram arruinadas,
casas foram destruídas e muita gente morreu nas mãos de autoridades locais que
praticavam políticas de planejamento familiar de forma cruel e violenta. As famílias de
camponeses analfabetos eram quem mais aferradamente combatia o governo local pela
chance de ter um bebê do sexo masculino.
Há um ditado chinês que já citei antes que diz “o céu é alto, e o imperador está longe”
— o que signica que quanto mais alguém se afasta da sede do governo, mais provável é que
regras locais prevaleçam sobre éditos da capital. Com uma área de 9,6 milhões de
quilômetros quadrados, a China é um país vasto, e há áreas onde a política do lho único
nunca foi efetivamente implementada. Nas regiões mais remotas no oeste da China, ela só
vale da boca para fora. Em 2006, enquanto realizava entrevistas para meu livro Testemunhas
da China, na região banhada pelos rios Amarelo e Yangtze, encontrei em vilarejos
montanhosos no oeste muitas famílias com cinco ou mais lhos (havia exceções para
grupos étnicos minoritários); mesmo no leste da China, eram comuns famílias de
camponeses pobres com três lhos ou mais. Nem todos os jovens com vinte e poucos anos
na China são lhos únicos; também há vários com pencas de irmãos e irmãs.
Diferentemente, nas áreas urbanas do leste da China, o cumprimento da lei era e é
draconiano.2 No início dos anos 1990, quase todo mundo vivia dentro dos limites da
economia planejada pelo governo. De forma que ter mais de um lho signicava a perda do
emprego, da casa (que era alocada pelo empregador), do direito às rações de comida e de
roupas, do direito da criança à educação e à assistência médica, e até mesmo da chance de
encontrar outro emprego, já que ninguém ousaria contratar tal pessoa. Apenas porque você
tivera um lho “extra”, você e a sua família estariam abrindo mão de absolutamente tudo.
Entre a população com bom nível educacional, havia de fato muito poucas pessoas
preparadas a correr o risco de arruinar suas perspectivas de vida dessa maneira. Entretanto,
isso não as impedia de lançar mão de todo e qualquer meio, de tecnologias médicas
modernas até remédios à base de plantas da medicina chinesa, para garantir o nascimento
de um lho homem. Acho que isso explica, até certo ponto, o desequilíbrio de gêneros em
algumas áreas da China.
Nos muitos anos que passei entrevistando pessoas em função do meu trabalho,
descobri outra razão simples, porém importante, para o abandono de bebês: a combinação
de ignorância e de liberdade sexual entre os jovens.
Examinando retrospectivamente a primeira década das reformas econômicas, ca
claro que 1992 marcou um ponto de virada para a população urbana chinesa. Até aquele
momento, moradores urbanos de bom nível educacional eram espectadores passivos dos
acontecimentos. Muitos chegaram a fazer pouco das reformas como sendo mais uma
manobra política. Olhavam com certo desprezo para trabalhadores migrantes vindos do
interior que labutavam furiosamente para erguer-se acima da pobreza absoluta; e
menosprezavam aqueles ex-vagabundos sem prossão que passaram a prosperar como
donos de banquinhas ou camelôs nas metrópoles e grandes cidades. Nos anos 1980, a
expressão “famílias de 10 mil yuans por ano” designava a população sem instrução que
havia ganhado dinheiro assumindo riscos. Os que tinham instrução eram mais cautelosos.
Levaram uma década para acordar para o fato de que, se não quisessem perder o bonde da
história, precisavam reunir coragem e agarrar as oportunidades oferecidas pelas reformas.
Uma grande leva de jovens não tardou a inundar faculdades e universidades. Empreender
entrou na moda, assim como qualquer coisa que fosse ocidental. E no que dizia respeito a
jovens estudantes, as reformas pareceram encontrar sua mais dramática expressão nas
relações “ocidentalizadas” entre os sexos — houve um repentino salto nos números de
jovens que dormiam juntos sem ser casados.
Uma amiga minha da China certa vez se lamentou para mim ao telefone por não mais
saber que regras sociais estavam em vigor e o que signicava moralidade. “Na nossa época”,
ela disse, “ninguém ousaria sequer conversar a sós com alguém do outro sexo. Nossos pais
não se beijavam nem se abraçavam na frente dos lhos! Mas agora minha lha de dezenove
anos troca de namorado a cada dois meses, e volta e meia dorme fora de casa. Ela chama
isso de liberdade sexual e de ser dona do próprio nariz! Não sei mais: será que sobrou
algum padrão de comportamento social?”
Não discutirei aqui que padrões de comportamento social deveríamos seguir. Julgar
todo mundo pelos mesmos padrões é algo ignorante e autoritário. O que quero é falar sobre
esses jovens, a geração da lha da minha amiga, que cresceram nos anos 1990. Eles
passaram direto da vida em uma sociedade na qual ainda vigiam padrões morais
tradicionais para a adoção de costumes sexuais ocidentalizados. O problema é que muitos
deles praticamente não tiveram nenhuma educação ou orientação sexual: viviam uma
existência “assexuada” no seio da família, na escola e na sociedade. Uma combinação de
fatores — ignorância sexual, ausência de programas de saúde sexual, bem como atitudes
hipócritas no que diz respeito à sexualidade por parte da geração mais velha — resultou que
quando tais jovens foram subitamente expostos à ocidentalizada liberação sexual e ao novo
hedonismo, as consequências foram desastrosas. Muitos nada sabiam sobre contracepção,
nem mesmo sobre como são feitos os bebês. O negócio do aborto se tornou um ótimo
caminho para se ganhar dinheiro rapidamente, e anúncios para esse tipo de serviço eram
axados em toda parte nas periferias das cidades. Quase nenhuma das estudantes que
engravidavam cava com o bebê. As famílias chinesas disputavam os meninos, mas os
bebês do sexo feminino inevitavelmente terminavam em orfanatos. Essa é provavelmente
uma das razões para o aumento dramático nos números de bebezinhas em orfanatos
chineses de 1990 em diante, e também para a instituição da política governamental de 1992
que permitiu a adoção internacional.3
Claro, há também outras razões que explicam o abandono de recém-nascidos, e tais
razões são ainda mais perturbadoras e terríveis. Por exemplo, um adivinho pode prever que
isso “poupará problemas futuros à família”; e há também as crenças populares de que matar
um bebê vai “evitar catástrofes naturais”. Entre muitas pessoas, persistem as crenças relativas
ao abandono de bebês que foram transmitidas pelos membros mais velhos de uma
comunidade.
Neste livro, o leitor encontrará histórias trágicas sobre o que tradicionalmente tem
acontecido com bebês abandonados do sexo feminino, e ainda continua a acontecer. As
ferramentas que reforçam essas tradições, forjadas a partir da necessidade de sobreviver,
têm sido ao longo dos séculos mantidas amoladas pelas mães — e ainda assim as vítimas
são justamente mulheres e meninas. Em 2004, fundei na Inglaterra uma instituição de
caridade chamada e Mothers’ Bridge of Love (mbl). Ela tem três objetivos principais:
fornecer recursos culturais para crianças chinesas espalhadas pelo mundo; ajudar crianças
que foram adotadas por famílias ocidentais, e que portanto têm uma herança cultural dupla;
e, especialmente, fornecer auxílio para crianças decientes que perecem esquecidas em
orfanatos chineses.
* O sistema originou-se na China no ano 485 por uma ordem do imperador Xiaowendi da
dinastia dos Wei do Norte (386-534/5). [As notas chamadas por asterisco são do editor
inglês. As notas numeradas são da autora.]
** Como as lhas mulheres, ao casar, passavam a fazer parte de outra família, elas não
recebiam terras enquanto ainda vivessem em sua família de nascimento.
*** Na China moderna, um mu equivale a 1/6 acre ou 1/16 hectare. Na China antiga,
porém, o tamanho de um mu variava de acordo com o período histórico e também com o
tipo de terra em questão.
1. O economista Ma Yanchu (1882-1992) ingressou na Universidade de Tianjin em 1901
para estudar mineração e metalurgia; após um mestrado em economia na Universidade
Yale e um doutorado na Universidade Columbia, ele retornou à China, em 1915, e
trabalhou primeiramente no Ministério das Finanças do republicano “governo Beiyang”, de
Yuan Shikai, e posteriormente como professor de economia na Universidade de Beijing. Em
agosto de 1949, tornou-se reitor da Universidade de Zhejiang e ocupou vários cargos no
governo. Começou a dirigir suas pesquisas ao problema da rápida expansão demográca
ocorrida na China nos primeiros anos da década de 1950, publicando Nova teoria
populacional. Ma ressaltava a necessidade de se acumular capital, desenvolver a ciência e a
tecnologia, melhorar a produtividade da mão de obra, índices de desenvolvimento humano
e níveis educacionais, bem como incrementar o fornecimento de matéria-prima para a
indústria; concluindo que urgia controlar os números da população, ele estabeleceu três
pontos principais: 1) Apenas se os números demográcos fossem controlados os níveis de
consumo poderiam diminuir, permitindo a acumulação de capital. 2) Para construir o
socialismo, era necessário aumentar a produtividade da força de trabalho, desenvolver a
indústria pesada e fazer com que a agricultura passasse a ser mecanizada e movida à
eletricidade. 3) Havia um conito entre agricultura e produção de matéria-prima industrial;
a pressão da população quanto a recursos alimentares signicava que havia pouca terra na
qual cultivar algodão, bicho-da-seda, soja, amendoins e outros tipos de lavoura com alta
liquidez comercial. “Apenas razões alimentares já bastam para que a população seja
controlada”, ele escreveu, e isso precisava ser feito sem demora. Em várias ocasiões Ma
trouxe à baila, com Mao Zedong, o problema demográco. Mao Zedong discordava:
“Podemos planejar a produção de pessoas? Podemos submetê-las a estudos e
experimentos?”. Uma campanha nacional foi lançada para criticar o “pensamento
reacionário de Ma Yanchu”. Mas Ma manteve-se rme e, apesar de já idoso, declarou
publicamente: “Pelo bem do meu país e da verdade, continuarei a defender a minha teoria
demográca, haja o que houver. Não tenho receio de ser atacado nem posto no ostracismo,
tampouco temo provações, demissão, prisão e nem mesmo a própria morte”. Em 3 de
janeiro de 1960, ele foi forçado a se demitir do cargo de reitor da Universidade de Beijing e
logo em seguida foi demovido de suas funções no Comitê Permanente da Assembleia
Popular Nacional. Foi proibido de publicar textos, de falar em público, de dar entrevistas e
de receber visitantes estrangeiros, mesmo se fossem apenas amigos. Por suas más ações, ele
também foi colocado sob prisão domiciliar.
Depois do desbaratamento da Gangue dos Quatro, Ma Yanchu foi novamente indicado
reitor da Universidade de Beijing. Ele morreu logo depois do seu centésimo aniversário, em
14 de maio de 1982.
2. Entretanto, em julho de 2009 as autoridades de Shanghai anunciaram publicamente um
abrandamento ocial (já em prática na cidade havia três anos) quanto à política do lho
único. Preocupadas com o equilíbrio populacional — resultado de uma queda na taxa de
nascimentos nas classes mais favorecidas e de uma população cada vez mais velha —,
começaram a incentivar o nascimento de um segundo lho em alguns setores da população.
3. No meu trabalho, e também quando pesquisava sobre as necessidades culturais das
crianças chinesas adotadas, aprendi bastante sobre leis de adoção. A Lei de Adoção da
República Popular da China foi aprovada na xxiii Reunião do Comitê Permanente da vii
Assembleia Popular Nacional em 29 de dezembro de 1991 e passou a vigorar em 1o de abril
de 1992. Foi reticada na V Reunião do Comitê Permanente da ix Assembleia Popular
Nacional, em 4 de novembro de 1998. Então, em 2005, a China assinou a Convenção de
Haia de 29 de maio de 1993, relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de
Adoção Internacional (Convenção de Haia para a Adoção). Ver apêndice B.